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"Ser escritor é só estar vivo quando (e porque) escreve" | Entrevista com Léo Ottesen

Convidamos o poeta, escritor e compositor Léo Ottesen, que também é o nosso mais recente colunista, para uma entrevista sobre seu livro lançado em 2015 pela editora Clube de Autores, que é um apanhado dos melhores poemas publicados na página pessoal do autor entre 2013 e 2015.



E aqui, ele nos fala mais sobre seu trabalho e tira nossas curiosidades!


Conte-nos sobre o processo de escrita de "mas enfim", edição e publicação. Como tudo começou, quando, quanto tempo até finalizar tudo etc.

Tudo começou quando eu resolvi abandonar o tumblr e postar meus textos numa página do facebook, que recebeu o mesmo nome, A Rotina do Sonho, e que hoje leva o meu nome. Eu não tinha pretensão nenhuma de viver da arte, mesmo porque sei o quão difícil é, então sempre escrevi e publiquei de graça: blogs, tumblr, facebook, e-books. Contudo, alguns leitores insistiram pra que eu publicasse um livro, porque eles queriam sentir o cheiro das páginas, tocar, deitar na cama com ele... Enfim. Eu acabei entendendo o lado deles e comecei a escolher a dedo alguns poemas publicados na página entre 2013 e 2015 (ano do lançamento). Como eu já conhecia a editora Clube de Autores, por uma indicação de um colega escritor, tudo aconteceu bem rápido. Eu prefiro não depender de ninguém, por isso fui sozinho pesquisar imagens livres de direitos autorais, editei a capa, escolhi o esquema de cores, tudo. Em menos de uma semana, o livro estava pronto. Aí começou a segunda fase da publicação: a apresentação. Escolhi, pra dizer algumas palavras sobre o livro, dois amigos escritores, um mais antigo e outro mais recente: o Dr. Sandro Martins Costa Mendes, mestre em Teoria da Literatura e doutor em Escrita Criativa pela PUCRS; e o poeta Ni Brisant, professor de criação literária e idealizador de diversos movimentos artísticos. Com as apresentações “coladas” na contracapa, enviei tudo pra editora e nascia, assim, meu primeiro bebê: formato pocket, com poemas curtos, bem íntimo, tímido, bem pequeno, bem eu.


Ficou insatisfeito com algo referente ao seu livro? Por exemplo, capa, edição, algum poema que gostaria de modificar, acrescentar, tirar etc.

Eu só fiquei insatisfeito com o valor que a editora me cobrou pela publicação. E recebo reclamações sobre isso. O que acontece é que o custo acaba sendo muito alto e o retorno pro autor é ínfimo. Quer dizer, não tem problema pra mim, já que eu não pretendia ganhar a vida com isso, então não me importava de receber um valor simbólico. A questão é um livro de 120 páginas em formato pocket, o que alguns parentes meus até hoje não reconhecem como “um livro de verdade”, ser vendido a preço de romance. Mas, tirando isso, eu me orgulho bastante do meu trabalho nessa primeira publicação.


Como você vê o mercado editorial do Brasil?

Esse é um assunto que sempre surge quando me encontro com colegas. Num desses encontros, eu desenvolvi uma tese sobre o problema do mercado editorial. Seguinte: as editoras argumentam que não publicam novos autores porque o recebimento de originais é muito maior do que a demanda. Quer dizer, o brasileiro escreve muito mais do que lê e compra livros. A minha explicação é que, pra escrever, a gente só precisa escrever. Talvez se nasça escritor ou talvez não, mas de qualquer forma, escrever é uma necessidade pra nós. Por outro lado, ler e ser leitor exigem impulso externo, como professores e pais que fazem a pessoa gostar de literatura. Assim, o brasileiro acaba lendo pouco, mas continua escrevendo normalmente. Então, vejo algumas editoras que se dizem dispostas a publicar novos autores nacionais, mas que continuam trabalhando com a literatura comercial aos moldes dos americanos. O mercado é muito complicado e eu até entendo o lado delas. Quem compraria o livro de um escritor aspirante brasileiro quando uma cantora ou apresentadora acabou de publicar sua bibliografia? Enfim, eu vejo o mercado editorial como um mercado. Nós, artistas, gostamos de pensar ideologicamente o mundo, mas a realidade da sociedade capitalista sempre nos dá um banho de água fria.


Qual sua opinião sobre a literatura brasileira? E quais são seus escritores nacionais preferidos?

Eu sou louco pela literatura nacional, especialmente dos modernistas pra cá. Acho que, cada vez mais, os meus contemporâneos estão sabendo lidar com as novas tecnologias e as problemáticas do século XXI, produzindo uma literatura de qualidade e com identidade própria. Salvo apenas alguns autores e autoras que, representando a sua geração, acabam repetindo fórmulas dos autores consagrados, geralmente americanos. Sempre tive muita dificuldade pra elencar favoritos. Não só em literatura, mas em tudo. De qualquer forma, eu tenho um apreço grande por Luis Fernando Verissimo; Elisa Lucinda; Daniel Galera (embora não consiga ler seus livros até o final); e sou perdidamente apaixonado por Caio Fernando Abreu. Na poesia, fico com Vinicius de Moraes; Manoel de Barros; Paulo Leminski; Carlos Drummond de Andrade; Pedro Gabriel; Saulo Pessato e Ni Brisant.


Você tem/teve alguma inspiração para escrever? Possui uma playlist para ouvir antes ou durante o processo de escrita?

Minha inspiração vem de tudo quanto é canto. Não gosto de me forçar a escrever, porque nunca me parece legal e eu acabo nem publicando, por isso eu preciso estar inspirado sempre. O meu processo, na poesia, é rápido demais e não dá tempo de ouvir música nem nada. Eu sento, escrevo, publico. Pronto. Também não costumo revisar os poemas, senão o meu perfeccionismo e minha insegurança acabam me fazendo desistir de mostrá-los. Quando escrevo em prosa, porém, eu me alongo bastante. Coloco algumas músicas e alguns filmes pra esquecer a história nos intervalos. Deixo que meu subconsciente trabalhe enquanto eu me divirto. Depois volto a escrever e assim eu passo as horas ou os dias – no caso de estar trabalhando numa narrativa maior, como uma novela ou um conto.


Costuma usar livros ou filmes como base para escrever?

De jeito nenhum! (risos) Eu tenho uma falha bem grave no meu estilo: sou uma esponja. Eu não posso ler nada enquanto estou escrevendo alguma história, porque acabo absorvendo o estilo do autor e perco a minha essência. Demorei um tempo pra perceber isso, o que me rendeu muitas surpresas do tipo “não fui eu que escrevi isso, embora esteja na minha pasta de textos”. Quer dizer, de que adiantaria escrever se não fosse pra me enxergar no que foi escrito? Enfim, como base, eu só uso as minhas próprias experiências, sejam reais ou imaginadas, e a minha imaginação criativa. A inspiração, contudo, pode vir de qualquer lugar.


Como é o processo de criação dos seus poemas, crônicas e contos? Você anota frases e versos soltos e depois forma o texto com esses fragmentos ou cria tudo por inteiro na mesma hora?

Isso depende bastante. Os poemas geralmente me chegam prontos; mas também pode acontecer de uma ideia surgir no ônibus, por exemplo, e eu só conseguir anotar alguma coisa num papel, então rezo pra que aquilo ainda faça sentido quando eu puder sentar e desenvolver o poema. Já com as crônicas, eu vou contra os meus princípios e me forço a escrever. A ideia importa pouco, uma vez que eu me empenho mais no lirismo do texto e nas divagações que ocorrem enquanto o narrador fala. Dessa forma, eu vou criando na hora. Por último, os contos e novelas são os mais demorados. Faço de tudo. Escrevo frases que ouvi e que soam bem; sento e vou escrevendo, permito que as próprias personagens decidam seus futuros e desfechos; anoto pensamentos que surgem durante conversas ou mesmo filmes; chego a pausar o filme e escrever durante horas, até o ponto de esquecer que estava assistindo. Mas tenho roteiros e estruturas de formação do perfil psicológico das personagens (como traumas, manias, vícios...) anotados, o que ajuda muito na inserção das ideias que tenho quando não estou escrevendo. Dessa forma, as anotações vão pro roteiro e só quando a história chega no momento cronológico ou narrativo certo é que elas aparecem. Isso faz com que eu não me perca nem coloque segmentos incoerentes no meio do texto apenas por serem bonitos.


Qual é seu maior obstáculo consigo mesmo enquanto escritor?

O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade e Impulsividade (TDAH/I). É bem complicado, pra mim, conseguir terminar um projeto que eu inicio. Se, por um lado, o transtorno me torna criativo, por outro, ele faz com que eu não tenha foco naquilo a que me disponho. Pelo menos não por longos períodos de tempo. Isso me levou a desistir da ideia de escrever romances, porque nunca consegui terminar nem um dos que comecei, e me imergiu ainda mais na poesia e nos gêneros narrativos mais curtos, como o conto e a crônica, e, agora, a novela. Outro obstáculo sempre foi a insegurança, mas o reconhecimento do público leitor e de especialistas na área literária tem me ajudado demais com esse problema.


Para você, o que é ser escritor? Pretende continuar neste ramo?

Ser escritor é só estar vivo quando (e porque) escreve. Eu, pessoalmente, não me lembro de não escrever. Comecei escrevendo contos aos nove anos, aos quinze eu escrevia crônicas e poemas. Hoje, com 24, eu posso dizer que não consigo me enxergar sendo qualquer outra coisa. E, sim, pretendo nunca parar de escrever, mesmo partindo pra outras áreas, como a música, o cinema, a docência, e a gastronomia.


Gostaria de deixar algum recado para os seus leitores?

Eu gostaria de agradecer imensamente pela oportunidade de falar um pouco sobre mim e o meu trabalho. Dizer que adorei a entrevista e espero que todos gostem também.


SOBRE O AUTOR


Léo é da cidade de Rio Grande - RS e atualmente desenvolve oficinas de Escrita Criativa junto ao Clube do Autoconhecimento, na cidade de Rio Grande, também promove eventos artísticos e culturais como membro-fundador da Sociedade dos Poetas Papareias. Léo também participou das antologias: Rede de Palavras, pela ed. Scortecci, e Somos todos poetas, lançada no formato ebook pela página Lápis e Papel, com textos poéticos.


Para conhecer mais do trabalho do autor, acompanhe a página no Facebook, E para adquirir o livro, acesse o site clubedeautores.com.br e garanta seu exemplar!

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