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"O Expresso do Amanhã" ou de hoje? | RESENHA

E se seguíssemos o que é ditado pela ciência, indiscriminadamente, sem contestar fundamentos éticos e lógicos?

Esta é uma das ideias presentes no filme O Expresso do Amanhã (Snowpiercer, 2013, Coréia do Sul, República Tcheca, Estados Unidos e França). Baseado no premiado HQ francês, “O Perfuraneve”, a história é uma distopia — aquele gênero literário que explora a possibilidade de uma sociedade com um governo extremamente interventor, violento e totalitário, que abusa do domínio de cidadãos, cerceando liberdades. Por favor, tente não pensar no Brasil nos dias hoje, distopia é um estilo de narrativa.


Nesta versão da história dirigida por Joon Ho Bong, lideranças e representantes dos países, motivados por temores cada vez maiores do “aquecimento global”, criam o gás CW7, para resfriar o planeta. Dispersado simultaneamente na estratosfera de todos os continentes, o resultado ultrapassa expectativas, acelerando a Terra a uma nova Era Glacial, congelando sua superfície e acabando com toda a vida.


Bem, toda não. Em 2031 resta apenas um pequeno grupo de pessoas, confinado em um trem fantástico, de tecnologia disruptiva, que é capaz de cruzar a Terra por um trópico, utilizando uma fonte de energia infinita.


Em uma extrema condição de escassez, os responsáveis pelo Snowpiercer ou “Arca Expressa”, usam a força para submeter os passageiros ao domínio centralizado, com manipulação e controle muito comuns a doutrinas sociais ‘científicas’ que presumem planificar seres humanos como entes iguais, de comportamento previsível. Ao ignorar a natureza singular de cada indivíduo, as pessoas não passam de um grande rebanho.


Os vagões são divididos para refletir a divisão da população em castas, de acordo com um pressuposto social (o ticket de embarque adquirido), que é imutável. A porta-voz do “Grande Wilford” (criador da “Máquina Sagrada” que salvou a humanidade) após presenciar a agressão a uma funcionária deste “Grande Líder”, pertencente a classe dominante, faz uma declaração do pressuposto de classes ao grupo menos favorecido, enquanto o agressor é punido com a amputação do braço que atirou o sapato:


"Passageiros…

Isto não é um sapato.

Isto é desordem.

Isto é o caos no tamanho 44.

Isto… estão vendo?

Isto é a morte.

Nesta locomotiva que chamamos de casa, há uma coisa…que está entre o nossos corações quentes e o frio congelante.

Roupas, escudos?

Não, a ordem.

A ordem é a barreira que repele a morte congelante.

Todos nós, neste trem da vida, permanecemos em nossos lugares, cada um de nós precisamos ocupar…nossas posições específicas, predestinadas."


E ainda reforça atribuições divinas, para veneração metafísica de entidades…físicas.


"No início tudo era prescrito pela sua passagem.

Primeira classe e econômica, para aproveitadores como vocês.

A ordem eterna é prescrita pela Máquina Sagrada.

Todas as coisas fluem a partir da Máquina Sagrada.

Todas as coisas em seus lugares.

Todos os passageiros em seus setores.

Toda água fluindo, tudo aumentando o calor…pagam homenagem também à Máquina Sagrada.

Em suas próprias partículas…nas posições predeterminadas.

E assim é."


Como na citação de Mark Twain, “a história não se repete, mas rima”, mais uma revolução dos menos favorecidos se instaura no trem. Mesmo que o principal objetivo desta revolução seja dominar a locomotiva, o final desta película é surpreendente, assim como é a natureza humana em qualquer época.

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