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[RESENHA] LFO - THE MOVIE


“Obrigado pela sua cooperação. Agora, por favor, morram: DIE!”. (Robert Nord, in LFO — The Movie, 2013)

Minha primeira resenha no Portal Literativo a convite da Bruna Modesto é sobre um filme que assisti o ano passado e que me trouxe muitas reflexões. Como pensador e ativista político preocupado com a situação caótica de nossas relações sociais subsumidas pelas prioridades do sistema, a cada filme, livro ou obra de arte que me deparo, procuro extrair uma reflexão que sirva para problematizar a realidade vivida a que estou inserido. Não poderia ser diferente com esse filme impressionante.

LFO é um filme de baixo orçamento e de produção independente com uma história que problematiza os limites da ética quando o homem se vê com poderes que jamais imaginou serem possíveis. Embora seja classificado como Ficção Científica e Drama, LFO se utiliza de Realismo Fantástico com altas doses de humor negro, explorando uma mente perturbada pela culpa em um homem de meia idade, obcecado, solitário e com uma rara doença: alergia pelo som. Pesquisando sobre sua doença e participando de grupos de discussão online, o protagonista descobre uma frequência que lhe dá o poder de hipnotizar as pessoas deixando-as à mercê de suas ordens.

O filme explora uma narrativa em que o presente vivido pelo protagonista aos poucos, através de lembranças ou revelações sobre o passado, vai descortinando a trama, explicando os motivos (ou pseudomotivos) pelos quais os fatos e decisões acontecem. O nome do filme, LFO, refere-se ao termo “low frequency oscillator” que trata tanto de aparelhos osciladores de baixa frequência (utilizados em música eletrônica) quanto de áudios abaixo de 20 Hz, criando um som inaudível, mas que cria uma espécie de ‘pulsação’.


Robert Nord é o nome da personagem interpretada brilhantemente por Patrik Karlson. Parece um adolescente sem limites que desconhece o perigo, as consequências de seus atos e não possui quaisquer freios éticos. É movido por instintos e necessidades. Só pensa reativamente, mas sempre depois de reagir. Reage, em geral, à culpa que sente, mas joga sempre a responsabilidade no outro e tenta justificar-se por ter sido pego a roldão pelas circunstâncias fatídicas que viveu. Apesar de tudo isso, Robert tem carisma, é engraçado, quase inocente e, no fundo, parece ter percebido que diante de tanto poder, poderia fazer algo realmente bom para o mundo.

Mesmo assim, é uma personagem egoísta, diria até egocêntrico. Apesar do carisma e da aparente inocência, na verdade ele não tem qualquer consciência do outro, empatia, e tudo o que acontece em sua volta sempre diz respeito a ele próprio. É possível problematizar a temática do filme questionando até que ponto um poder como o que Robert adquiriu não nos seduziria para agirmos como ele? Ou quantos Roberts convivem diariamente conosco e só não nos escraviza porque não tem o poder que ele adquiriu? Afinal, a empatia tem um caráter de negociação, de retorno, portanto utilitário, ou diz respeito a princípios que poderíamos assumir mesmo com total poder sobre o outro?


O outro, para Robert, não constitui um fim em si mesmo. Ele, no entanto, a todo momento é fim: seu bem estar, seu prazer, sua satisfação. O outro é reduzido à meio para que ele possa viver como quer, seja na sua obsessão, seja em ‘salvar o mundo’. Pela história do filme é possível problematizar diversas questões éticas, desde o utilitarismo liberal de John Stuart Mill à questão da ética como reflexão de questões humanas a partir de princípios tanto dentro das relações, portanto imanentes, quanto fora das relações, portanto transcendentes.

Segundo o professor Mario Sergio Cortella (2009), as três perguntas essenciais para cuidarmos eticamente da vida coletiva são: Quero? Devo? Posso? Robert, não passava pela pergunta sobre o “dever” e sequer problematizava as consequências de seus atos no outro. Para ele, se for sim a resposta do “Quero?”, bastava saber se “Podia”. Diante do poder, ele passa a querer tudo o que o poder pode oferecer, mesmo que não deva, mesmo que sequer já tenha querido.

Poderíamos, então, dizer que Robert era antiético ou aético? Se, com Cortella, admitirmos que aqueles que possuem princípios e valores para decidir, avaliar e julgar estejam submetidos ao campo da ética, não podemos dizer que Robert seja um ser aético. Até porque ele sentia muita culpa e fazia juízos sobre aquilo que cometia, mesmo que esses juízos viessem na figura de sua esposa morta o repreendendo e ironizando seus atos egoístas. Tanto é que, ao final, arrependido, decide hipnotizar e si mesmo para se tornar alguém compatível com o poder que possuía, mesmo que a escolha final tenha sido fatídica.


A ironia do filme está nisso. Parece que se formos mesmo pensar no bem do planeta, a primeira decisão ética que tomaríamos seria eliminar a humanidade. 


Assistam esse filme, vale a pena. Reflita a respeito e traga aqui seu parecer. Vamos bater um papo. Obrigado por lerem.

Ficha Técnica:

Título: LFO: The Movie (Original) Ano de Produção: 2013 Direção, Produção e Roteiro: Antonio Tublen Estreia: Mundial em Set/2013 — No Brasil em Maio/2014 Duração: 94 minutos Classificação: 14 anos Gênero: Drama, Ficção Científica País de Origem: Dinamarca e Suécia

Elenco: Patrik Karlson: Robert Nord Ahanna Rash: Clara Izabella Jo Tschig: Linn Per Löfberg: Simon Björn Löfberg Egner: Sebastian Erik Bören: Sinus-San

Referências: CHAUÍ, M. Iniciação à Filosofia. 2ª. ed. São Paulo: Ática, 2013. CORTELLA, M. S. Qual é tua obra? Petrópolis: Bozes, 2009. LFO — The Movie. Direção: Antonio Tublen. Produção: Antonio Tublen et al. Intérpretes: Patrik Karlson. [S.l.]: [s.n.]. 2013.

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