A Redoma de Vidro | Sylvia Plath
Eu já li este livro duas vezes, não porque o achei maravilhoso como todo mundo acha, mas sim porque criei expectativa demais na primeira vez. Toda resenha que vi e li sobre o título diziam a mesma coisa: "é uma história pesada, leia em um momento bom da sua vida para não se deixar levar" e coisas do tipo. Então, quando peguei o livro e sentei para ler, me decepcionei porque não achei nada pesado, nada muito surpreendente. A escrita é de fato muito boa; flui, é um livro que pode ser lido em dois ou três dias muito tranquilamente.
Então eu pensei, ou eu devo ser muito fria e insensível porque não achei a história comovente, ou não prestei muita atenção. Resolvi reler e cheguei a conclusão de que a história deve ser lida nas entrelinhas mais do que qualquer coisa.
Esther Greenwood é uma jovem estudante em uma universidade conceituada, que conseguiu um estágio numa revista de moda famosíssima de New York onde passa o verão, e onde começa nossa história. Logo no início da narrativa Esther já nos deixa pistas de que dali em diante sua cabeça só vai piorar. Esther é rodeada de meninas bonitas (assim como ela), e de muito luxo. No decorrer das páginas podemos acompanhar Esther indo a várias festas, bares e conhecendo muitos homens nas madrugadas agitadas de New York. Entretanto, ao passo que vemos tanto divertimento, podemos ver muito desinteresse, apatia e tristeza da parte de Esther. Ela não quer saber de homens, prefere beber até cair do que se apaixonar. E também podemos notar nas entrelinhas que Esther é uma mulher forte, no sentindo de ser feminista e talvez nem saber disso, afinal é um livro da década de 60. Ela é dona de seu corpo e faz o que ela quiser, sempre se questionando sobre o papel da mulher na sociedade.
Ela conseguiu ter tudo o que sempre quis para chegar até onde realmente quer, ela está no caminho certo, na carreira certa, mas por algum motivo (ou nenhum, quem sabe?), Esther está entrando num poço cada vez mais fundo chamado depressão. Ela tem crises de choro inexplicáveis, ela não tem compaixão, não tem empatia, tanto é que deixou sua colega desmaiada do lado de fora do seu quarto propositalmente, e que sem dúvidas é uma cena que você relê só pra ter certeza de que foi aquilo mesmo que leu. Quando lhe perguntam o que ela quer da vida, ela não sabe responder, ela mesmo pensa que sempre teve a resposta para essa pergunta na ponta da língua, mas em dado momento ela só sabe responder "não sei", porque a depressão sugou todas as esperanças e vontade de viver que havia nela.
Quando o estágio dela acaba, ela volta para sua casa em Boston, onde tudo parece piorar, Esther tenta se matar algumas vezes, sua cabeça é rodeada de pensamentos ruins, de crises existenciais e de autodestruição. Até que ela vai parar em uma clínica psiquiátrica, onde os profissionais da época usavam muito a "eletroterapia", em que passou por várias sessões, porém sem melhora nenhuma. Ao perceber que não havia jeito de melhorar, Esther passou a fingir dar resultados, até que foi transferida pra uma outra instituição, e lá, encontrou a Dra. Nolan, a única pessoa no livro em que Esther demonstrou algum sentimento e confiança.
E então, o livro termina exatamente do mesmo jeito que começou: Esther consegue o que quer, mas continua completamente vazia dentro de sua redoma de vidro.
Sylvia Plath nasceu em outubro de 1932 e suicidou-se em fevereiro de 1963, pouco depois da publicação da sua obra em 14 de janeiro de 1963. E é daí que vem o pressuposto de que a obra é autobiográfica. Eu não li a biografia de Sylvia Plath, por isso não me arrisco a dizer com certeza, mas muitas pesquisas e outras resenhas de pessoas que leram a biografia apontam que sim, é um livro autobiográfico. O próprio site Wikipédia o intitula como "semi-autobiográfico". Sylvia também escrevia poemas e foi uma das principais autoras do movimento norte-americano chamado "poesia confessional", recebeu um prêmio dezenove anos depois de sua morte devido a coletânea de poemas que seu marido Ted Hughes selecionou. Ela era casada e tinha dois filhos.