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Os estudos sexuais de Alfred Kinsey e Masters&Johnson

O comportamento sexual entre as espécies é um dos grandes questionamentos feitos por estudiosos ao longo dos anos, e, referto de controvérsias e transformações, tem uma ligação direta com o comportamento geral do ser humano, seus retraimentos, medos e inseguranças. É essa temática que “Kinsey – Vamos Falar de Sexo” apresenta no longa-metragem biográfico dirigido por Bill Condon (2005), fazendo quem assiste se indagar o tempo todo: a sexualidade é, de fato, algo natural das pessoas?

Alfred Kinsey – formidavelmente interpretado por Liam Neeson – foi um dos primeiros cientistas a estudar a sexualidade humana. Em meados da década de 50, onde o papel da mulher era apenas satisfazer as necessidades fisiológicas do homem e reproduzir, falar sobre sexo era um tabu até mesmo em um casamento de anos. Portanto, as pesquisas de Kinsey polemizaram a sociedade: começando por um estudo com animais em que descobriu e fundamentou a diversidade entre as espécies, o objetivo foi construído ao perceber que o modo de agir de cada pessoa é diferente, e cada um tem desejos que, apesar de pouco estimulados, se forem reprimidos podem levar a pior das loucuras. O professor – carinhosamente conhecido como Prok – viu a necessidade de conversar pessoalmente com as pessoas sobre sexo, suas práticas e opiniões, dada a falta que de informação que havia sobre o tema, que além de ser um pecado entre os indivíduos também era considerado imoral qualquer tentativa de fuga dos padrões.


No decorrer dos estudos, Prok se deparou com a diversidade que tanto buscava comprovar, mas também presenciou quão anormal era, para os entrevistados, ao menos a menção de sexo, e quanto as pessoas eram limitadas em seus conhecimentos sobre a própria sexualidade, recusando reconhecer ou cogitar como natural a masturbação ou um toque diferenciado no companheiro. O cientista também estudou a sexualidade em termos de orientação afetivo-sexual, criando uma escala ao dizer que ninguém é de todo heterossexual ou homossexual, podendo ter variações de 1 a 6. Ao se declarar, na escala, o número 4, a trama ruma para questões pessoais da vida de Kinsey que frequentemente norteiam suas pesquisas e enriquecem o conteúdo da obra, mas que, em contrapartida, podem causar espanto pela tamanha cientificidade com que lida com os assuntos, ignorando, muitas vezes, o sentimento dos mais próximos.


Durante o filme, com a musicalidade e fotografia na medida certa para manter a atração por todo o tempo, as pesquisas de Alfred Kinsey se mostram agridoces: ao mesmo tempo em que contribuem para descobertas incríveis a respeito da sexualidade, chocam crescentemente a população, que por vezes discorda das afirmações feitas ou conflita quando se depara com experiências pessoais que confirmam o que vem sendo dito. Mesmo com o apoio de sua esposa e antiga aluna Clara McMillen – interpretada pela indicada ao Oscar Lara Linney – e de seu companheiro Wardell Pomeroy (Chris O’Donnell), o que o escândalo o fez se tornar mundialmente conhecido, as críticas negativas levaram Kinsey ao fracasso de sua pesquisa e desmotivação de continuar o trabalho, mas que deixa reflexos na sociedade até os dias atuais, quando a sexualidade ainda é muito mitificada e atormenta as vidas de muitos jovens e adultos que têm medos de ir adiante com assuntos de seus próprios desejos interiores.


Depois dos estudos de Kinsey, uma dupla de cientistas também se propôs a estudar a sexualidade humana: William Masters e Virginia Johnson. No final da década de 50, eles começaram a fazer estudos sobre a resposta sexual do ser humano, e para isso observavam indivíduos se masturbando ou fazendo sexo com seus parceiros, a fim de obterem dados precisos a respeito de temas como fisiologia do orgasmo, fases do ato sexual, desordens sexuais, etc. Ambos contribuíram muito para desmistificar questões sobre o sexo, que só serviam para dar menos visibilidade para as mulheres e maior distanciamento da igualdade de gênero – como o fato de muitas mulheres nunca terem tido a chance de ter um orgasmo enquanto é só isso que homens buscam em uma relação. Para retratar bem a história de Masters e Johnson, há a série “Masters of Sex” (2013), exibida pelo canal HBO aqui no Brasil, e que demonstra com notável sensibilidade o árduo trabalho dos dois em alcançar bons resultados nas descobertas desse assunto.


Estudar o sexo, as questões de gênero, a prevenção e todas as outras categorias da sexualidade deveria ser um fator presente desde a infância, para tornar este assunto tão inerente do ser humano o mais natural possível entre as rodas de conversa e as práticas em si. Desconstruir preceitos é fundamental para que qualquer tipo de expressão sexual seja mais benquista socialmente, e os seres humanos possam viver da maneira que lhes é desejada independentemente de moralidades que um dia eram vigentes no social; deste modo, se assim como Kinsey, mais estudiosos se debruçassem sobre este ponto, conversando diretamente com as pessoas, fazendo-as ficarem a vontade para falar sobre suas vontades e aflições, e trazendo o sexo para mais próximo do nosso cotidiano, o mundo certamente chegaria na liberdade adequada e no entendimento mais eficaz do comportamento – sexual ou geral – de cada indivíduo.

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